segunda-feira, outubro 24, 2005

E se um prefeito qualquer tomasse decisões que prejudicam a população? Hipoteticamente, a população prejudicada entraria com mandados de segurança contra as ações da prefeitura. E se esse prefeito se voltasse contra a população, adotando outras medidas que a prejudicam, mas desta vez vestindo-as com uma falsa roupa de constitucionalidade? Hipoteticamente, a população realizaria protestos e talvez acabasse por realizar um impeachment contra o prefeito.

Pois é aqui que a hipótese de despede da realidade petropolitana. Depois de condenar os moradores de uma rua residencial a viverem de frente a uma "via expressa" (entre aspas, porque eu nunca vi uma via expressa que desemboque em uma rua de uma pista só); e depois de ter uma obra embargada, insistido em comprar o terreno, para mesmo assim ser frustrado pela justiça, o prefeito Rubens Bontempo, num perfeito ato de picardia, condenou agora os moradores de Petrópolis que trabalham no Rio de Janeiro a enfrentar uma jornada extra por dia.

Não vou entrar no (des)mérito da localização da nova rodoviária do Bingen. Ela fica quase fora da cidade (ouvi dizer que houve discussões com Xerém, porque o terreno estaria localizado nesse município; se for verdade, então a rodoviária está literalmente fora da cidade), mas a companhia dos ônibus intermunicipais informou que continuaria realizando os embarques no centro e mantendo quase o mesmo trajeto a que os passageiros estão acostumados.

Então, eis que o prefeito põe suas manguinhas de fora, como minha mãe gosta de dizer. Botou um anúncio na TV Serra Mar dizendo que, para obedecer ao princípio constitucional que diz que todos os consumidores devem ser tratados de forma igual, os ônibus para o Rio não vão poder pegar passageiros no trajeto entre a garagem e a rodoviária. Muito bem, sr. prefeito. Isso sim que é igualdade social.

Só acho que o sr. esqueceu que, diferentemente de quem mora no Bingen, os moradores do centro vão levar uns 30 a 40 minutos para chegar à rodoviária. Considerando que a maioria dos passageiros pegava os ônibus no centro, a igualdade que vai se estabelecer entre aqueles que trabalham e/ou estudam no Rio é o cansaço, a irritação e o peso no bolso.

Hipoteticamente, esses três fatores seriam suficientes pra demitir alguém.

6 comentários:

Filipe Veiga disse...

Uma das minhas primas petropolitanas já me falou nisso, que a tal "rodoviária" (se me permite a liberdade de usar uma expressão tipicamente portuguesa) fica no cú de Judas (ou seja, longe de tudo e de todos).

Ann disse...

Exatamente. É a expressão perfeita!

PS: Ah, então foi por motivos familiares que um português veio parar na nossa desconhecida cidade. :)

Filipe Veiga disse...

Sim, foi um dos motivos.. Só por um acaso do destino que a minha avó não acompanhou o meu tio-avó para o Brasil quase meio século atrás.

Ann disse...

Adoro ouvir essas histórias de família! :)

Filipe Veiga disse...

Gosta? Também eu! Então dê uma olhada no meu album do flickr.

http://www.flickr.com/photos/27826891@N00/6920168/

O menino na foto é esse meu tio-avô. A mais nova é a minha avó. Ele viajou para o Brasil fugindo de perseguição política. Durante a 2ª guerra foi correspondente em Portugal de vários meios de comunicação ingleses, coisa que não foi do agrado do regime Português da altura, e que lhe trouxe muitos problemas anos mais tarde.

Para provar tudo isso, há um documento oficial de reconhecimento assinado pelo Rei de Inglaterra Jorge VI, pelos serviços prestados pelo meu tio-avô durante a guerra.

E a pensar que tive de ir a Petrópolis para pôr os olhos nesse documento que a minha avó sempre falou...

Ann disse...

Uau!!! E eu, que me vanglorio de um tataravô que foi Barão...