quarta-feira, dezembro 28, 2005

Caminheira sobre as águas

Fiz uma listinha de prós e contras da minha viagem a bordo do MSC Melody. Vamos tirar logo os contras do caminho, pra ficar com as coisas boas por último:

Contras

  • Eu nunca tive nada contra argentinos, mas esta viagem me fez mudar de opinião.
    a) Primeiro dia no navio: entrei numa loja que vendia máquinas fotográficas digitais, pra saber quanto estavam custando. A loja estava cheia, e uma velhinha me empurrou pra passar. Continuou andando na sua, falando seu castelhano com suas amigas igualmente velhinhas, como se não tivesse feito nada pior que espantar uma mosca.
    b) Infinitas vezes ao longo do cruzeiro, tive de praticamente empurrar pessoas que ignoravam sumariamente a bengala e a dificuldade de caminhar do meu avô, ao entrar e sair dos elevadores.
  • O grupo de crianças de 5 a 12 anos, carinhosamente apelidados de Pivetada, que corriam pelo navio sem o menor conhecimento dos pais e aprontavam o que bem quisessem, sem receber mais do que olhares desaprovadores e a antipatia dos demais participantes do cruzeiro. A pivetada fazia coisas fofas, como:
    a) correr pelos corredores, virando as maçanetas de todas as cabines;
    b) correr, pular e fazer gestos obscenos na frente da tela do cinema, além de dar gritinhos e outros sons desagradáveis durante a sessão;
    c) ocupar os elevadores, enquanto aqueles que realmente precisavam deles ficavam esperando e esperando e esperando...
    d) no jantar de Natal, arranjaram aqueles guardachuvinhas de coquetéis e ficaram tacando fogo neles, usando a vela do arranjo da mesa. Os pais os haviam posto todos na mesma mesa, e estavam ocupados demais (pobrezinhos) para olhar o que os seus pimpolhos faziam. Foi necessário que o Maître tirasse a vela da mesa para que a sanha piromaníaca finalmente cessasse.
  • Cantada de pianista quarentão napolitano, me convidando para ir pra Nápolis com ele. Na frente do meu avô. Sem comentários.
  • Cantada de barman folgado balinês, dizendo pra minha mãe que ela ia ficar sem filha, porque ele ia me levar pra Bali. E depois quis oferecer um drink pra ela. Sem comentários.
  • O sujeito que fazia quase todos os anúncios no navio era o cara mais chato do universo. O microfone dele era sempre o mais alto, o timbre de voz dele era irritante, ele era espanhol mas cismou que o r em português se fala igual ao do francês (resultando em um francoportunhol), e ele - falava - tudo - três - vezes (uma em francoportunhol, uma em espanhol e uma em italiano - a não ser quando ele acrescentava uma versão em inglês, aí eram quatro repetições).
  • O navio era italiano, mas NÃO TINHA NUTELLA!!!!! >_<
  • Nossa cabine ficava exatamente em baixo de uma pista de dança. Preciso dizer mais?

Prós

  • Nem todos os argentinos eram poços de grosseria; pelo menos os que jogavam totó eram simpáticos.
  • Tive a grata oportunidade de dar um empurrão em um membro da pivetada. Ele ia saindo de um elevador olhando para trás, e estava em rota de colisão com meu avô. Mas depois me arrependi: foi fraco demais.
  • O português bizarro dos cardápios gerou palavras um tanto pitorescas:
    manteiga de garfafa
    esparguete à bolonhesa
    suco de piña
    (= abacaxi)
  • Contato com pessoas de países diversos: Madagascar, Bali (não só o barman folgado), Bulgária, Romênia, Itália (não só o pianista safado), Peru, etc.
  • Reencontro com pessoas que trabalhavam no cruzeiro do ano passado, em outro navio... e que se lembravam de mim!!
  • Ganhei US$100.00 (Cem dólares) no cassino. (har har!)
  • Ganhei pela primeira vez em um desses jogos de quermesse. E o prêmio foi exatamente o porta-CD que eu estava de olho desde o primeiro dia de viagem! (bom, não era exatamente esse o prêmio; era uma carteira que estava do lado, mas eu pedi pro cara da animação pra trocar, e ele disse 'tá bom, mas só porque é pra você'. Tee hee!)
  • Perdi o campeonato de totó, mas ganhei amigas: três menininhas muito fofas. Elas ficavam brigando entre si pra ver quem ia jogar comigo, e uma vez foi necessário fazê-las tirar par ou ímpar, porque a briga estava ficando séria. E as três faziam questão de me dar oi quando passavam por mim nos corredores (tem coisa mais fofa?).
  • Visitei Montevidéu pela primeira vez (conhecer lugares novos é uma das minhas paixões, como boa caminheira que sou)
  • O balanço gostoso do mar agitado (balançou muuuuito perto de Santa Catarina)
  • Ganhei um brinquedinho novo! (mais sobre ele em posts subseqüentes)

Conclusão

  • Napolitano é mesmo tudo safado
  • Na próxima vez, vou exigir a planta do navio, antes de reservar a minha cabine
  • Totó une as nações (melhor que as Nações Unidas)

Um comentário:

Filipe Veiga disse...

eheheheh

Essa descrição fez lembrar-me das histórias clássicas de detectives, com todas aquelas personagens bizarras nos cruzeiros, nos casinos ou nos comboios.. só faltava mesmo um crime, uma vítima, os vários suspeitos e um detective com manias e tiques compulsivos.. alguém parecido com um Hercule Poirot.. eheheh