quarta-feira, abril 05, 2006

Relato de uma viagem diária

Estava caminhando pela cidade, ouvindo os cantos habituais ("Trestraite e' dois, trestraite e' dois!"*, "SU-tiã modelador!"), e me deparei com quantidade ainda mais assustadoramente grande de pessoas em um trecho da rua. Pensando que seria algum sinal de pedestres aberto, ativei minha blindagem contra contato humano indesejado e fui traçando minha rota pelo mar de gente. Mas os cantos foram adquirindo notas estranhas ("Ih, a lá!", "Caraco, mermão!"), e foi quando percebi que, do outro lado da rua, havia um incêndio. Já devia estar quase controlado, mas saía muita fumaça escura, aos borbotões, das vitrines quebradas e da porta de uma loja no térreo.

Chamou também a atenção desta caminheira a quantidade de gente parada, assistindo aos bombeiros jogarem água numa nuvem de fumaça negra, e atrapalhando ainda mais o trânsito da já atrapalhada Avenida Rio Branco de depois do almoço.

Como de costume, a dimensão humana roubou a cena. Não foi preciso nem mesmo assistir ao ocorrido para colher informações, devido aos mais variados cantos em resposta ao acontecimento: "É a Folic!!" - emitido por uma socialite horrorizada - "Putz, que fumaceira!" - pelos tolos corajosos que atravessavam na parte da rua mais atingida pela fumaça carregada pelo vento. Mas o canto de que eu mais gostei, e o mais filosófico de todos, foi este:

- Fogo é foda.



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*se algum leitor tiver ouvido esse canto antes e estiver confuso quanto a seu significado, pergunte nos comentários e eu desvendo o mistério.

2 comentários:

Warum Nicht? disse...

e foda é fogo!
(não pude resistir!)

Anônimo disse...

Gostei do seu blog. Muito inteligente. Gostaria de ter a familiaridade que vc. tem com a subjetividade. Você é fogo, menina Ann. Parabéns!